A fonte e a noiva - uma homenagem ao Passeio Público e à Nicolina Vaz de Assis. 2023.
Ação coletiva em espaço público

Concepção Luana Aguiar. Participantes: Bianca Prell, Beatriz Vieira, Camila Uchoa, Carolline Tinôco, Cássia Maria Monteiro, Clarice Rito, Clara Bakker, Fátima Pinheiro, Julyana Ohana, Laura Freitas, Luiza Prell, Maria Haniya, Mariana Moysés, Mylena Godinho, Sarah Mantuan, Silvana Freitas, Suellen Refrande. Agradecimento: Renata Santini.

Exposição Passeio Público - Caixa Cultural RJ
Curadoria: Carolina Rodrigues + Daniela Name + Paula de Oliveira Camargo

No interior da galeria:
60 fotografias de registro da ação coletiva realizada no Passeio Público, com flores e folhagens
Fotografias polaroide de Felipe Stefani
8,6 x 5,4 cm (cada)

"Apenas uma escultura. Um tritão, o torso bem definido, carregando um tipo de ânfora sem alças por onde a água do lago corre. Ele é uma fonte d’água numa ilhota artificial, recoberta por folhagens de um verde muito, muito escuro. Ele, o tritão mitológico, é a única escultura do Passeio Público concebida por uma mulher. Nicolina Vaz de Assis viveu entre 1866 e 1941 e traçou um caminho dissonante em uma época em que a atividade em escultura era considerada um ramo exclusivamente masculino.
Luana Aguiar convoca um grupo de artistas e parceiras para ocupar o Passeio Público. A performance A fonte e a noiva abre alas para que a presença de mulheres no jardim não se dê apenas pela fantasmagoria, pelos humores miasmáticos que saem do solo criado, pela água que jorra da réplica do tritão de Nicolina.
Abrindo um tapete vegetal de folhas e flores brancas, que serpenteia o caminho do portão principal até a Fonte do Tritão, as participantes da ação saem da condição de fantasmas e se materializam em presença sólida que oferece rosas, gérberas e mosquitinhos às suas mortas, reivindicando o luto por elas e por esse território.
A obra adentra a galeria na forma de 60 fotografias instantâneas que registram não apenas a instalação do tapete, durante a performance, mas sua decomposição – ou a destruição, já que foi varrido por profissionais de limpeza urbana no dia seguinte à ação.
Enquanto as flores se desfazem no Passeio, a obra vai se completando no interior da galeria, com imagens sendo inseridas pouco a pouco na parede marcada em grafite à espera dos espectros que irão preencher o quadro." 

Texto: Paula de Oliveira Camargo
.
"Reconexão e oferenda

Os trabalhos andarilhos de Passeio Público percorreram o parque com um procedimento de encantaria. No dia de abertura, a primeira caminhada foi A fonte e a noiva, trabalho de Luana Aguiar, que estendeu um tapete de flores brancas para Nicolina Vaz de Assis, uma das primeiras escultoras do país, e a única artista mulher com uma obra no Passeio Público, a escultura Tritão, o deus do mar, criada originalmente para o aquário que funcionou no Passeio Público. Ao convidar um grupo de mulheres para tecer um caminho entre o portão principal e a obra, hoje localizada numa ilha artificial no córrego do jardim, Luana fez a sobreposição de dois campos semânticos.
Um deles acessa o universo funerário das coroas de flores e tapetes de pétalas da Semana Santa, lembrando a morte simbólica de Nicolina e a baixa visibilidade de seu trabalho artístico.  O segundo, mais ligado a outros saberes e fés, aproxima a proposta de ação coletiva de uma espécie de oferenda, por meio da qual a artista busca uma reconexão com Nicolina, presentificando e ressignificando sua importância."

Texto: Daniela Name
Back to Top